Escolher o vencedor de um comparativo entre esportivos BMW e Mercedes não costumava dar muito trabalho. Pelo menos não até pouco tempo atrás. Mas as coisas mudaram lá em Munique, caro leitor, e ainda mais para os lados de Sttutgart. Assim como a Mercedes GP está dominando a temporada 2014 da F1, a divisão de superesportivos da marca, a preparadora AMG, cansou de apanhar para a Motorsport da rival bávara. Isso já tinha ficado claro para mim ao acelerar o novo Classe E 63 AMG ao lado do BMW M5. E agora se torna ainda mais evidente nesta história que vamos contar agora, num épico encontro entre o A 45 AMG e o M135i – simplesmente os über hot hatches do momento. Über? Sim, é a palavra que os alemães usam para definir algo como “o que há de melhor”.
Estou contagiado pela atmosfera empolgante do A 45, tentando buscar o limite dele com o 135i na nossa cola. A resposta dos 360 cv do motorzão 2.0 turbo é um soco no estômago, enquanto as trocas ascendentes do câmbio de dupla embreagem são acompanhadas de estouros no escape. O Classe A bombado é uma rocha, de forma que as rodas aro 19″ em conjunto com a suspensão de cimento não deixam escapar sequer uma formiga no chão. A direção, bem firme e comandada por um belíssimo volante de base reta e revestido de Alcantara, me dá a precisão e sensibilidade perfeita para atacar as curvas. Puxo o hatch da estrela para dentro das tangentes e ele obedece caninamente, como se os pneus tivessem Super Bonder em sua composição. O BMW já está um pouco menor no retrovisor…
A saúde do quatro cilindros é tamanha que algumas vezes o motor corta antes que eu tenha tempo de dar um tapa na borboleta de metal para subir a marcha. O A 45 é um animal feito para caçadas em alta velocidade, com você amarrado no banco concha para não voar e inebriado pela mistura de sons metálicos e um ronco digno de carro preparado fora da fábrica. O velocímetro mostra números proibitivos em questão de segundos e a próxima curva surge num piscar de olhos. Sem problemas: subo no freio e encontro uma mordida imediata e um pedal maravilhosamente firme. A ancorada é tão animal que dá para apontar o volante e voltar a acelerar com uma velocidade muito maior do que você faria normalmente.
O pequeno AMG é assim, oferece grip onde você acha que já era, e tem uma dianteira grudada no chão que deixa você chegar nas curvas mais rápido que no BMW. Em caso de derrapagem dos pneus da frente, a tração traseira é acionada recebendo até 50% do torque, para equilibrar o A na trajetória novamente. Os mais experientes podem dizer que o 135i é mais divertido com sua tração somente traseira, mas se você quer ser realmente rápido, é o Mercedes que você deseja. Isso sem falar na aderência bem mais consistente quando o piso não está exatamente seco. Nos trechos escorregadios da nossa estradinha favorita o AMG abria ainda mais vantagem, proporcionando maior confiança.
Na troca para o 135i, a sensação é de estar num carro menos focado. Percebo uma suspensão bem mais macia, a direção mais leve e sem tanta comunicação, o ronco mais brando (apesar de ser um seis cilindros turbo!) e o freio menos firme. Parece que saí de um carro de corrida para um de passeio. De fato, os fãs da marca bávara podem alegar que o M135i não é exatamente um legítimo M – apenas teve alguns itens preparados pela Motorsport, mas não chega a ser um M1. O “seis canecos” é menos esporrento e não borbulha nas reduções, mas revela uma melodia maravilhosa sob aceleração forte, enquanto a transmissão automática de oito marchas me deixa na dúvida sobre a real necessidade de uma dupla embreagem. Sim, a caixa do BMW aceita reduções com giro alto que o AMG de sete marchas não topa! O 135i é mais discreto, mas consegue ser tão veloz de reta quanto o A 45, engolindo suas oito marchas como um bicho faminto.
As coisas na cabine não parecem tão especiais quanto no AMG, com um volante tradicional e borboletas menores, de plástico – no Mercedes são de metal, como nas Ferrari. Os bancos oferecem apoio e firmeza suficiente, mas não são tão envolventes quanto os assentos tipo concha do modelo de Sttutgart. A suspensão segue macia e complacente com os buracos mesmo no modo Sport+ de condução, quando os amortecedores ganham o maior nível de rigidez, e motor e câmbio entregam tudo que podem. E não é pouco: são 320 cv e 45,9 kgfm de torque logo a 1.300 rpm! Nesta condição, o controle de estabilidade também entra no modo permissivo, embora fique em stand by para o caso de você passar do ponto.
Andando de pé cravado, a sensação de leveza é maior no BMW, sem a mesma confiança e conectividade do A 45 com a pista. O 135i, ao contrário do antigo (e endiabrado) 1M cupê, parece um hatch de luxo com motor poderoso. Mas também pode ser altamente divertido em mãos habilidosas, de preferência numa pista fechada. Mas aqui no mundo real, nas serrinhas da vida onde a maioria dos compradores vai andar com esses carros, não dá para abusar tanto quanto no rival. A tração é traseira, sim, mas diferente do que você possa imaginar a primeira escapada do 135i é de frente, ampliada pela presença do pesado motorzão de seis cilindros na dianteira. É peso extra onde você não quer, resultando num alargamento da trajetória maior do que me lembro do 118i, com motor 1.6 turbo de quatro cilindros. Ou seja, para fincar o BMW na trajetória desejada nas entradas de curva, é preciso matar mais a velocidade que no Mercedes. Depois a gente retoma a aceleração e, aí sim, curte a tração traseira nas saídas de tangente, onde o 135i proporciona inesquecíveis rabeadas, como um cachorro feliz ao rever o dono.
No cômputo geral, no entanto, a verdade é que o A 45 já abriu margem e, embora seu motorista possa não estar rindo tanto quanto você no BMW, é ele que está na frente. O hatch de Munique não tem a preparação elevada ao máximo quanto o de Sttutgart. O Mercedes tem barulho de carro de corrida, tomadas de ar de carro de corrida, rodas aro 19″ de carro de corrida e suspensão de carro de corrida. Não é por acaso que ele traz o motor 2.0 mais potente do mundo: são 1,8 bar de pressão no turbo (!), contra uma média de 0,6 a 0,8 bar na maioria dos motores turbinados de fábrica. É o caso do 135i, que opera com 0,6 bar. Ambos têm os mesmos 45,9 kgfm de torque, mas no BMW ele surge antes.
Basta um pouco de matemática para ver que a BMW foi modesta ao extrair “somente” 320 cv do 3.0 seis em linha do 135i. Se tivesse a mesma potência específica do A 45, de 180 cv por litro, o hatch bávaro contaria com um haras de 540 cavalos! Ou seja, ele parece mais longe de seu limite, com espaço para ser seu carro do dia-a-dia. Coloque no modo Comfort e você ganha um hatch de luxo tão suave quem nem parece ter rodas aro 18″. Você poderia ir ao trabalho, jantar com a namorada e ainda participar de um tack day no fim-de-semana. Já o A 45 é mais específico. Para uso cotidiano, você acaba cansando das pancadas da suspensão na cidade e do motor urrando sempre querendo acelerar. É mesmo quase um carro de corrida.
Curioso é que esses monstrinhos até desligam o motor no trânsito para economizar combustível, o que a princípio soa como uma hipocrisia sem tamanho. Mas, depois de fazer o teste de consumo, vem a boa surpresa: o Mercedes fez 8 km/l no ciclo urbano e 11,5 km/l no rodoviário, contra médias de 7,6 km/l e 10,8 km/l do BMW, respectivamente. Lembre-se, no entanto, que esses números foram conseguidos dirigindo de forma suave e sem acelerar muito. O que, confesso, é quase impossível de fazer com esses carros. A 120 km/h em sétima marcha no A 45 e em oitava no 135i, a única coisa que você vai sentir é tédio.
Comprar um hot hatch para contar vantagem de consumo? Melhor contar o resultado das nossas medições de desempenho que, como esperado, foram “muuuuito” parelhas. Lembra que falei do BMW ser tão rápido de reta quanto o rival? Pois os números de aceleração foram rigorosamente IGUAIS nas três medições, com ambos chegando aos 100 km/h em 5,3 segundos. A diferença é que no BMW é preciso dosar o acelerador para não ficar queimando borracha no chão e perdendo tempo. Já o Mercedes transfere tão rápido a tração para trás que nem dá tempo da dianteira patinar, mas você percebe um certo “delay” antes da partida.
Também não é pelas retomadas que você vai escolher seu hot hatch preferido, pois novamente os valores foram quase idênticos, com mínima vantagem do A45 de 40 a 100 km/h. Já nas frenagens, também como esperado devido às mordidas mais nervosas na estradinha, vitória do AMG: impressionantes 35,8 metros na prova de 100 km/h a 0, contra (bons) 37,7 metros do 135i.
Após um dia de muita adrenalina e pouco juízo, chegar ao veredicto num comparativo desses nunca foi tão difícil. Como disse no começo, antigamente os BMW eram mais agressivos que os Mercedes, sendo que os carros da estrela sempre tentavam combinar esportividade com boas doses de conforto. Mas hoje as coisas definitivamente mudaram, e lançar um carro como o A 45 mostra que a Mercedes adotou uma filosofia mais radical para seus esportivos. E já que aqui estamos em busca do hot hatch mais visceral possível, chegamos à conclusão: o BMW 135i (R$ 209.950) é uma bela compra e uma opção divertidíssima para todas as horas. Mas, se você pode gastar mais (R$ 264.900) e quer um carro realmente especial, fique com o A 45 AMG. Pelo menos até a chegada do cupê M2 que a BMW está preparando para a revanche…
Por Daniel Messeder
Fotos Rafael Munhoz
Fotos Rafael Munhoz
Ficha Técnica – Mercedes-Benz A 45 AMG
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.991 cm³, turbo, injeção direta, gasolina; Potência: 360 cv a 6.000 rpm; Torque: 45,9 kgfm entre 2.250 rpm e 5.000 rpm;Transmissão: câmbio automatizado AMG Speedshift DCT de dupla embreagem e sete marchas, tração integral; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e independente four-link na traseira; Freios: discos ventilados nas quatro rodas com ABS e EBD;Rodas: aro 19″ com pneus 235/40 R19 Peso: 1.555 kg; Capacidades: porta-malas 341 litros, tanque 56 litros; Dimensões: comprimento 4.359 mm, largura 1.780 mm, altura 1.417 mm, entre-eixos 2.699 mm
Medições
Aceleração
0 a 60 km/h: 2,7 s
0 a 80 km/h: 3,9 s
0 a 100 km/h: 5,3 s
0 a 60 km/h: 2,7 s
0 a 80 km/h: 3,9 s
0 a 100 km/h: 5,3 s
Retomada
40 a 100 km/h em S: 3,7 s
80 a 120 km/h em S: 3,0 s
40 a 100 km/h em S: 3,7 s
80 a 120 km/h em S: 3,0 s
Frenagem
100 km/h a 0: 35,8 m
80 km/h a 0: 22,3 m
60 km/h a 0: 12,9 m
100 km/h a 0: 35,8 m
80 km/h a 0: 22,3 m
60 km/h a 0: 12,9 m
Consumo
Ciclo cidade: 8,0 km/l
Ciclo estrada: 11,5 km/l
Ciclo cidade: 8,0 km/l
Ciclo estrada: 11,5 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 4,6 s
Consumo cidade: -
Consumo estrada: –
Velocidade máxima: 250 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 4,6 s
Consumo cidade: -
Consumo estrada: –
Velocidade máxima: 250 km/h
Ficha Técnica – BMW M135i
Motor: dianteiro, longitudinal, seis cilindros em linha, 24 válvulas, 2.979 cm³, turbo, injeção direta, gasolina; Potência: 320 cv a 5.800 rpm; Torque: 45,9 kgfm entre 1.300 rpm e 4.500 rpm;Transmissão: câmbio automático de oito marchas, tração traseira; Direção: elétrica;Suspensão: independente McPherson na dianteira e independente multilink na traseira; Freios:discos ventilados nas quatro rodas com ABS e EBD; Rodas: aro 18″ com pneus 225/40 R18 na dianteira e 245/35 R18 na traseira Peso: 1.520 kg; Capacidades: porta-malas 360 litros, tanque 52 litros; Dimensões: comprimento 4.340 mm, largura 1.765 mm, altura 1.411 mm, entre-eixos 2.690 mm
Medições
Aceleração
0 a 60 km/h: 2,7 s
0 a 80 km/h: 3,9 s
0 a 100 km/h: 5,3 s
0 a 60 km/h: 2,7 s
0 a 80 km/h: 3,9 s
0 a 100 km/h: 5,3 s
Retomada
40 a 100 km/h em S: 3,9 s
80 a 120 km/h em S: 3,0 s
40 a 100 km/h em S: 3,9 s
80 a 120 km/h em S: 3,0 s
Frenagem
100 km/h a 0: 37,7 m
80 km/h a 0: 23,5 m
60 km/h a 0: 13,5 m
100 km/h a 0: 37,7 m
80 km/h a 0: 23,5 m
60 km/h a 0: 13,5 m
Consumo
Ciclo cidade: 7,6 km/l
Ciclo estrada: 10,8 km/l
Ciclo cidade: 7,6 km/l
Ciclo estrada: 10,8 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 4,9 s
Consumo cidade: -
Consumo estrada: –
Velocidade máxima: 250 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 4,9 s
Consumo cidade: -
Consumo estrada: –
Velocidade máxima: 250 km/h
Por: Carplace
Nenhum comentário:
Postar um comentário